Nunca é cedo demais para começar a debater sobre possíveis indicados ao prêmio de Álbum do Ano no Grammy. Apesar de estarmos a nove meses da edição 2017 da premiação, já vimos de perto dois álbuns com grandes chances de indicações: 25, de Adele, e Lemonade, de Beyoncé.
Sabemos que esse é um prognóstico precipitado e que o período para a inscrição dos trabalhos vai até o fim de setembro. Além disso, 2016 ainda reserva lançamentos de artistas que já venceram a premiação anteriormente na categoria, como U2, Paul Simon e Beck. Fora as novidades que ainda estão por vir dos previamente indicados Lady Gaga, Alicia Keys e Bruce Springsteen.
A Billboard fez uma pesquisa com alguns jurados do Grammy (que preferiram o anonimato) para conseguir pistas.
“Eu votaria no álbum da Beyoncé”, diz um veterano no grupo de jurados. “Para alguém que não costuma falar da vida pessoal, esse álbum a expôs emocionalmente, porque ela sempre pareceu tão protetora… E eu gosto disso. Não acho que Adele foi tão longe ou talvez já estejamos acostumados com seu diário aberto pra todo mundo ler. Ela vendeu muitas cópias, mas estou mais ansioso com o que virá no seu próximo álbum do que com esse”, disse.
O vice-presidente de uma gravadora aposta em Adele, mas faz uma ressalva: “Sinto que ela vai receber alguns votos de gêneros como clássico e folk. Mas pode acontecer qualquer coisa, porque Beyoncé deve receber votos do R&B e rap. Vai ser uma disputa apertada”.
Veja, a seguir, uma análise dos pontos fracos e fortes de cada um dos trabalhos:
LEMONADE
Prós:
- De acordo com a métrica do Metacritic.com, Lemonade é o álbum com melhor crítica de 2016 por enquanto, com avaliação de 93 pontos. O segundo lugar é do Radiohead, com 89.
- A turnê de Beyoncé começou em 5 de junho. Isso não significa muito para o Grammy – pelo menosno caso do One Direction –, mas é difícil para os jurados resistirem a vontade de dar o prêmio para alguém que lota estádios, estreia em 1º lugar e deve ganhar a pesquisa anual Village Voice.
- Beyoncé migrou das músicas para as pistas e focou em um conceito sério para seu álbum, a infidelidade. Suas indicações anteriores a Álbum do Ano em 2010 e 2015 chegaram perto do prêmio, mas dessa vez ela tem uma narrativa artística a seu favor.
- A curiosa lista de parcerias em Lemonade – Jack White, The Weeknd, Kendrick Lamar e James Blake – mostra diversidade.
- Apesar de Melhor Clipe ser uma categoria separada do Grammy, a versão visual de Lemonade é um trabalho diferenciado, melhor do que os outros clipes da cantora. Após criar buzz com a estreia na HBO, o filme deu motivo para muitas pessoas se inscreverem no Tidal. Um produtor com fortes ligações com o Grammy disse que “a versão visual lançada pela HBO reinventa a forma de fazer álbuns pra essa geração”.
- Os últimos artistas afro-americanos a ganharem o prêmio de Álbum do Ano foram os rappers do Outkast em 2004. Com a dificuldade que os artistas de R&B e hip-hop têm de ganhar o prêmio máximo, Beyoncé consegue facilmente os votos desse nicho.
- E algo que não deve passar pela cabeça dos jurados, mas imagina a reação de Jay Z se ela ganhar? Será que a suposta inspiração do álbum sobre infidelidade vai deixá-lo chocado, orgulhoso ou ambos?
Contras:
- Os jurados mais velhos ou conservadores ainda favorecem cantores que compõem suas próprias músicas. Lemonade conta com longa lista de co-autores e produtores.
- A quantidade de palavrões nas primeiras faixas do álbum afasta os jurados mais tradicionais, enquanto Adele deixa sua boca suja bem longe do seu álbum.
- Adele também tem colaboradores em 25, mas os jurados tendem a preferir uma artista mais contida do que outra conhecida por máquinas de vento na beira do palco.
25
Prós:
- Em fevereiro, 25 atingiu a marca de oito milhões de álbuns vendidos após menos de três meses do lançamento. Quando o Grammy for realizado, em fevereiro do ano que vem, as vendas provavelmente terão ultrapassado os dez milhões. Beyoncé não deve conquistar essa marca, mesmo com a força de Lemonade. O Grammy vai deixar de premiar um disco de diamante?
- Não será apenas um disco de diamante, mas também um trabalho avaliado positivamente pela crítica. As resenhas de 25 não foram tão boas quanto as de 21, mas foram respeitosas e efusivas.
- O quadro do Saturday Night Live com a família problemática se unindo ao som de “Hello” no Natal? Apesar das letras de Adele serem um tanto depressivas, ela é uma artista bem querida.
- Adele pode não fazer shows em estádios ainda, mas seus ingressos são os mais valiosos de 2016 – e talvez deste século – baseado no preço de quatro dígitos pelo qual eles estavam sendo revendidos. E nem eram ingressos na primeira fila!
- Adele continua sendo a heroína da plateia que não quer ver coreografias elaboradas no palco, o que interessa os jurados do Grammy.
Contras:
- Como todos lembram, Adele ganhou vários Grammy com seu álbum anterior. E isso não é uma vantagem. Taylor Swift foi a primeira mulher a ganhar o prêmio de Álbum do Ano duas vezes. Homens também não conseguiram essa façanha muitas vezes. O U2 ganhou a categoria em 1988 e em 2006. Paul Simon triunfou em 1976 e 1987.
- Apesar de a maioria das críticas serem positivas, elas concordam que 25 foi, basicamente, a versão 2.0 de 21 – como uma sequência.
- Ficou faltando uma narrativa de memória. Enquanto as músicas de 21 sobre a perda do amor eram experiências pessoais, Adele admitiu que o repertório de 25 não representa sua vida atual como mãe. E isso pode lhe tirar o prêmio, já que Beyoncé finalmente parece expor sua vida em Lemonade.
Mitchell Cohen, antigo executivo da Columbia Records, acredita que Adele ganhará mais prêmios, mas ficará sem o principal Grammy da noite. “Penso que ela vai levar as categorias Música do Ano, Gravação do Ano e Melhor Vocal Pop com “Hello”, mas Lemonade leva o maior prêmio. Beyoncé nunca ganhou Álbum do Ano”, conclui.
Fonte: Billboard