Por Thereza Rodrigues/ Mestra em projetos educativos, Especialista em Cognição Geracional e Docente da Universidade UniÚnica
Autora do livro “Guia de Sobrevivência para Pais e Orientadores da Geração Digital”
A série Adolescência tem provocado incômodo e reflexão em muitos lares e instituições de ensino. De forma brilhante, ela nos conduz a uma experiência reflexiva brutal — não por cenas explícitas de violência, mas pela forma como escancara nossa acomodação enquanto sociedade. A série expõe as dores de uma geração que cresce imersa em códigos próprios, memes, símbolos e linguagens digitais que escapam à compreensão das gerações anteriores. Mais do que entretenimento, ela nos convoca a uma urgente revisão do modelo educativo tradicional, que não acompanhou a velocidade das transformações midiáticas e tecnológicas.
Vivemos uma era marcada por múltiplas telas, hiperconexões e uma nova estrutura de pensamento. A chamada Geração Alfa — formada por nativos digitais nascidos a partir de 2010 — já habita um ciberespaço que combina realidades paralelas, redes sociais gamificadas e novas formas de se expressar e de aprender. Nesse cenário, a missão de educar não é mais exclusiva da escola, tampouco se restringe à família. Educar no e para o digital tornou-se uma responsabilidade social coletiva.
Enquanto mãe e educadora, compreendo que Adolescência não é apenas o retrato de um tempo, mas um grito silencioso que ecoa entre pais, docentes e gestores: estamos preparados para orientar nossos filhos e alunos a jogar este novo jogo da vida digital com consciência, criticidade e equilíbrio?
Como mestra em projetos educativos e autora do Guia de Sobrevivência para Pais e Orientadores da Geração Digital, proponho um pacto coletivo: que toda a sociedade se debruce sobre essas novas realidades, que repensemos juntos a estrutura do processo educativo atual — ainda demasiadamente analógico — para que possamos, de fato, preparar os adolescentes para um mundo cada vez mais digital, gamificado e simbólico.
Na Universidade Uniúnica, onde atuo como docente, lanço esse convite diariamente aos meus universitários, especialmente aos futuros gestores da educação: é tempo de promover uma Educação 2.0, ancorada na cidadania digital, nas metodologias ativas e no conceito inovador de Jogabilidade Humana Gamificada.
Cada geração joga um jogo diferente, e cognitivamente, isso importa. Os Baby Boomers e a Geração X foram educados para seguir manuais. Já a Geração Alfa aprende explorando interfaces, tocando, testando, interagindo — é a cultura Touch em ação. Nesse contexto, os educadores precisam assumir um novo papel: o de facilitadores de experiências, de curadores de conhecimento, e não apenas transmissores de conteúdos.
A Jogabilidade Humana Gamificada, conceito em que venho me aprofundando no projeto Mãe Pixel, propõe que a aprendizagem seja vivencial, integrando emoção, raciocínio, instinto e intuição. Aprender deve ser uma experiência, não uma obrigação. E, para isso, precisamos reconhecer que o digital não é inimigo, mas ferramenta — desde que haja intencionalidade pedagógica e consciência ética em seu uso.
A Geração Alfa já está entre nós, e em breve chegará às universidades. Possuem habilidades digitais naturais, mas muitas vezes carecem de competências cognitivas e emocionais para lidar com os desafios que essas tecnologias impõem. Cabe a nós, adultos, garantir que essa imersão no mundo digital seja saudável, crítica e ética.
A Educação 2.0 não é apenas uma atualização curricular, mas um chamado para reconectar o humano ao processo educativo. Um processo que acolha o protagonismo dos jovens, respeite sua linguagem e ofereça espaços onde possam transformar suas vivências em saberes.
Em tempos incertos, nossa reinvenção como educadores, pais e cidadãos é urgente. Afinal, como bem apontou Marshall McLuhan: “Toda vez que muda a mídia, muda também a sociedade.”