Tecnologia detecta tumores com maior precisão e já é aplicada em hospitais brasileiros
Centros médicos do Brasil e do exterior passaram a utilizar algoritmos de Inteligência Artificial (IA) no diagnóstico e tratamento de câncer. A tecnologia tem auxiliado médicos na análise de exames, na identificação de tumores e na escolha de terapias adequadas a cada caso.
A prática tem mostrado que a IA acelera o diagnóstico e ajuda os profissionais a tomarem decisões. Os sistemas computacionais já atuam em diversas especialidades oncológicas, com aplicações que vão desde a análise de imagens até a identificação de perfis genéticos tumorais.
A aplicabilidade nos casos de tumores de pulmão e próstata é uma das mais estudadas. No primeiro caso, algoritmos analisam tomografias para diferenciar lesões benignas de malignas. Também é possível o uso da tecnologia para prevenir o câncer de cólon e reto, por meio da identificação precoce de pólipos durante exames endoscópicos.
Já no câncer de próstata, os sistemas identificam lesões malignas nas biópsias. Mapear a causa do câncer de próstata em cada paciente permite tratamentos direcionados, conforme mostram algoritmos que correlacionam mutações genéticas ao desenvolvimento tumoral.
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima 72 mil casos novos de câncer de próstata em 2025, enquanto o câncer de mama feminina deve atingir 74 mil casos. Juntos, esses dois tipos representam mais de 20% dos 704 mil casos de câncer previstos no país.
Para tumores de mama, os algoritmos quantificam marcadores nas amostras. O patologista precisaria analisar todas as lesões malignas encontradas em uma biópsia para calcular quanto o tumor expressa determinado biomarcador. Com os algoritmos, esse processo fica mais rápido e automatizado.
Uma tecnologia de IA também foi testada para o câncer de pâncreas, um dos mais caros de rastrear, segundo informações do Cancer Research. O modelo usou códigos de doenças e seu momento de ocorrência em milhões de registros médicos. Mesmo quando os sintomas não estavam diretamente relacionados ao pâncreas, o sistema conseguiu prever quais pacientes tinham maior risco.
A análise de perfis genéticos de tumores e pacientes tem permitido tratamentos direcionados. Estudos mostram que a tecnologia auxilia na criação de terapias personalizadas ao identificar quais tratamentos serão mais eficazes para um determinado perfil genético. Uma sessão de quimioterapia pode ser ajustada em dosagem e combinação de medicamentos conforme o perfil molecular do tumor, aumentando as chances de cura e minimizando os efeitos colaterais.
Estudo alemão mostra 17% mais detecções com IA
Na Alemanha, pesquisadores da Universidade de Lübeck acompanharam 461.818 mulheres em um programa de triagem, entre julho de 2021 e fevereiro de 2023. Quando os radiologistas usaram a ferramenta de IA, a taxa de detecção foi 17,6% maior: 6,7 casos por mil mulheres, contra 5,7 por mil no grupo que trabalhou sem o auxílio tecnológico, segundo informação divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
O software alemão rotula exames não suspeitos como “normais” e emite alertas quando considera que uma imagem suspeita foi classificada como normal pelo médico. Durante o estudo, a ferramenta gerou 3.959 alertas de segurança, o que permitiu diagnosticar 204 casos de câncer de mama. A pesquisa foi publicada em janeiro na revista Nature Medicine.
Na Alemanha, 3 milhões de mulheres fazem a triagem anualmente, gerando 24 milhões de imagens que dois radiologistas precisam avaliar de forma independente para cada paciente, conforme informações do IPEA. No Brasil, o volume é ainda maior: o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou 4,4 milhões de mamografias em 2024, sendo 2,6 milhões em mulheres de 50 a 74 anos, faixa prioritária para rastreamento. Os dados do PAINEL-Oncologia, sistema de monitoramento do Ministério da Saúde, mostram que os tratamentos oncológicos das mamas aumentaram 9% em 2023 comparado ao ano anterior.
Algoritmos estrangeiros precisam ser testados no Brasil
Não é possível adquirir um algoritmo desenvolvido em outros países, com pacientes tratados em um hospital estrangeiro, e aplicar diretamente no Brasil. Antes do uso clínico, ele deve ser validado com dados brasileiros e com os pacientes tratados no país.
Uma vez validada, a tecnologia pode impactar no tempo no tratamento. Evidências científicas compiladas pelo Ministério da Saúde apontam que 15% dos pacientes atrasam o início do tratamento entre 30 e 60 dias. Esse atraso representa aumento de 6% a 8% na mortalidade. A tecnologia que acelera diagnósticos pode salvar vidas ao reduzir essa janela crítica.
Durante o congresso da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), membros do Comitê de Tecnologia e Inovação afirmaram que a tecnologia depende sempre de julgamento humano. A IA pode ajudar, mas é preciso pensar também em como o raciocínio crítico, o bom julgamento e a ética humana aprimoram a tecnologia.
Brasil investe em soluções próprias
Além de importar IAs, há o esforço para desenvolver versões brasileiras. Startups nacionais já investem em soluções para detecção de tumores. Uma delas já rastreou mais de 500 mil mulheres desde 2022, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Outra empresa, criada em 2017, usa sensor infravermelho para capturar imagens da mama e enviá-las para servidor na nuvem. Algoritmos comparam as imagens com banco de dados de mais de 5 milhões de informações em busca de sinais de lesões cancerígenas.











