Mister Jam, produtor de Wanessa, ensina como fazer sucesso

Mister Jam é Fabio Almeida. Desde 2002, ele deixou a rotina de músico para se dedicar à produção de música eletrônica. Especializado em transformar sons do pop nacional em batidas para as pistas, Mister Jam já remixou nomes como Luan Santana e Gusttavo Lima. Autodenominado “hitmaker”, ele é o responsável pelo novo trabalho da cantora Wanessa, que acabou de lançar “Wanna Be”.

No meio de tanta música que é lançada diariamente, como se destacar? A Billboard Brasil bateu um papo com o produtor para tentar desvendar esse mistério. E com ele explicando até parece fácil…

Como um artista novo pode se diferenciar atualmente?
Acredito que o barato seja surpreender, buscar algo viral, que dê destaque…  Principalmente se for independente. Mesmo com a Wanessa, que já tem nome no cenário, foi preciso imaginar uma situação diferente. Bolamos um vídeo da gente dançando no estúdio, empolgado com a música, e aquilo foi um viral. Foi a faísca que tornou o lançamento bacana. Independentemente disso tudo, não basta só uma arte bonita. Depende de um post na hora certa na rede social certa… Tem isso também.

E quando o artista já vem de uma gravadora, isso ajuda ou atrapalha?
O artista independente foge da fórmula das gravadoras. Eu já tive banda, gosto de estar do outro lado, de saber como o independente está pensando, agindo. Muita gente chega ao estúdio até com grana pra pagar uma produção, mas não sabe pra que lado vai. Hoje qualquer um grava, certo? A tecnologia está na mão. Então gravar um single e jogar no iTunes está muito acessível… Mas não basta fazer isso. 80% da venda é a base, a estratégia, o que é pensado e planejado antes.

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E isso é uma demanda do público?
Sim. Quanto mais eu jogava música no mercado, mais cobravam. E chegou num ponto em que não bastava apenas a música. Cobram clipe, lyric video… Até música na plataforma do X-Box já me pediram. “E aí, não vai subir pra gente ouvir no videogame?” [risos].

Então só a música, em si, não chama mais a atenção de ninguém, é isso?
A concorrência é muito grande e você precisa ter um super apelo. Aí entra uma marca de bebida apoiando, um sorteio, uma promoção…  Estamos na cultura do “eu quero mais”. “O que mais eu levo?”. O público quer.

Existe crise no mercado?
Da minha parte não porque eu amplio o leque. Mas a gente nota as gravadoras mais reticentes em investimentos. O que era uma aposta certeira pra um disco, hoje virou só um EP ou um single, pra ver qual é. A gente sente isso na pele, no investimento no artista. Mas se há um bom leque de clientes, a crise chega menor.

A partir de um momento você passou a trabalhar com o sertanejo. Como foi essa “virada”?
Deixar de fazer um trabalho por preconceito é besteira. Eu assumi: sou um produtor pop brasileiro. A “especialidade da casa” é fazer remixes populares (como nas coletâneas Pista Sertaneja e Festeja Na Pista). A partir disso,  Aviões do Forró, Psirico e outros me procuraram pra remixar músicas extremamente populares. Abracei praticamente sozinho, nem sei quem faz isso hoje em dia. E daí pra começar a produzir do zero foi um pulo.

E qual a diferença em trabalhar com artistas do sertanejo?
Eles têm um modo peculiar de pensar, vão mais direto ao assunto, sabem o que querem. Ouço muito os artistas no estúdio e coloco o ponto de vista deles na música, não gosto de pensar sozinho. Já alguns do pop deixam mais na mão do produtor. É confiança, mas ele procura aquele produtor pelo som que ele já produz. O sertanejo gosta do som do produtor, mas quer uma viola, um timbre diferente.

Tem alguma aposta do sertanejo nesse momento no seu estúdio?
Tem sim. Tróia, primeira boy band sertaneja do Brasil. O empresário queria o sertanejo deles mais com batida pop. De início, estranhei: “Como é isso, gente?”. E aí me falaram: “Você faz essa sua batida super bem, mas queremos com violão, sanfona e baixo”. Aí fui dando meus pitacos: “Quero uma percussão ao vivo e não gravada”. Essas coisas. Não tem isso no mercado, é um desafio original.

Ouça “Ainda”, estreia da boy band sertaneja Tróia

Alguns produtores acompanham os artistas depois do lançamento. Você também faz isso?
Sempre acompanho os artistas, mesmo que de longe. No caso da banda Tróia, estarei envolvido na produção do show para garantir a sonoridade e não dar muita diferença entre o ao vivo e o que foi gravado.

Você tem um programa diário na Jovem Pan. Qual o papel do rádio hoje pra você?
Sim, estou lá com o Festa Pan, que é uma minifesta de 15 minutos e tem liberdade pra tocar pop nacional, mashups e sucessos internacionais. Hoje o rádio faz a consolidação dos sucessos. Apesar de tudo, o rádio ainda é importante. Pouca gente liga o carro e coloca um bluetooth. A massa ainda liga o rádio. E se tá tocando no rádio, endossa que aquilo realmente é um sucesso.

Hoje temos o domínio do sertanejo. Você consegue prever até quando?
O sertanejo já teve uma ligeira queda em relação ao funk e o funk pop de Anitta e afins. A ameaça é essa. Mas o sertanejo ainda domina por mais um ano, um ano e meio. Não vai ter muita movimentação. Uma renovação é difícil de acontecer agora. Na crise o pessoal vai no que conhece. Está correlacionado.

Então, pra resumir: pra ter sucesso tem que ter estratégia.
Precisa do timing certo, público certo, rede social certa, postagem na hora certa do dia… É tudo senso de oportunidade. Precisa ter a sacada, elaborar bem. Não precisa de um mega investimento.

E sorte?
Também conta. E a música tem que ser boa, né? [risos]. A internet glorifica ou detona de vez. Se for ruim, aquilo fica sendo replicado de forma negativa, sendo ridicularizado.

Por Marcos Lauro/ Billboard BR

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