New Camming Perspective (NCP) impacta o país e ressignifica o mercado de lives cams

 

Você já imaginou um segmento de mercado que coloca como meta ter que trabalhar sem parar por 3 dias seguidos para concorrer a um prêmio?  Bem-vindos ao mercado de webcamming do Brasil… até a chegada da NCP!

O projeto New Camming Perspective (NCP) propõe uma ruptura com a forma tradicional de funcionamento da indústria de webcamming, a qual tende a objetificar e desumanizar a mulher. Nesse contexto, objetificação refere-se à redução do trabalho das modelos à ação sexual instantânea na webcam. Desumanização diz respeito ao esvaziamento do capital cultural das prestadoras de serviço de modo que apenas o seu capital sexual/erótico tenha valor. Tratam-se de processos cuja característica determinante é a deslegitimação cognitiva e afetiva da mulher para satisfazer sexualmente o homem.

Priscila Magossi, CEO da New Camming Perspective (NCP) e doutora em Comunicação e Semiótica, explica o fenômeno em questão:

“Não se espera que um objeto sinta e pense, mas sim que cumpra a função para a qual foi criado. Quando pessoas são apresentadas como produtos, a expectativa é de que sejam obedientes, passivas, domesticadas. Mas nada disso acontece por acaso. No caso específico deste setor: se o usuário se sente à vontade para desrespeitar a modelo é porque ele foi encorajado a fazê-lo. Como? Com campanhas publicitárias que vendem a experiência de esvaziar a humanidade de uma mulher, reduzindo-a a partes do seu corpo.

A pesquisa desenvolvida pela New Camming Perspective (NCP) esclarece que a postura da modelo para com o usuário é o que vai determinar a qualidade desta relação. No entanto, se o problema é estrutural, é impossível que cada modelo individualmente eduque todos os usuários recebidos em sua sala de videochat.

As campanhas de marketing realizadas pelo oligopólio de empresas que operam neste mercado apresentam as mulheres como objetos que sentem prazer em receber um tratamento desumano. É por isso que o usuário entra na sala da modelo desrespeitando-a.

Portanto, é preciso que usuários, tomadores de decisões dos cam sites e toda a sociedade compreenda a gravidade da situação: contratar um serviço não pode ser confundido com a compra de um produto, de um objeto. Isto é problema de todos nós — e não apenas da comunidade de webcamming.

Juliana Villegas, consultora e Modelo Representante da New Camming Perspective (NCP), revela a calamidade em que se encontrava este setor no Brasil quando procurou por Priscila e juntas passaram a atuar na contenção de danos desta indústria no país:

“Cronologicamente, o primeiro cam site no Brasil surgiu há 7 anos, em 2013. No entanto, durante todo esse tempo, a prática do camming foi associada exclusivamente à ação sexual instantânea. Não havia a menor possibilidade em associar o camming à conexão afetiva até a chegada da NCP no país. Trabalhamos duro e hoje vemos mudanças significativas começando a acontecer”.

O movimento da NCP contribuiu para os seguintes avanços referentes à humanização da profissão no Brasil:

  • Encerraram-se as maratonas de 72 horas, prática fomentada pelas empresas locais em que as modelos eram estimuladas a trabalhar ininterruptamente por 3 dias seguidos para “baterem a meta” e disputarem um prêmio entre elas em seguida;
  • Foram retiradas todas as postagens nas redes sociais em que as modelos eram divulgadas como objetos sexuais à completa disposição dos usuários — inclusive em chat grátis;
  • Em seu lugar, foram elaborados novos textos focados no capital cultural das modelos (carisma, elegância, educação, inteligência);
  • Juliana teve a oportunidade de produzir a primeira campanha da Indústria de Live Cams direcionada à arrecadação de fundos para modelos grávidas;
  • As novas campanhas publicitárias começaram a estimular os usuários a se conectarem afetivamente com as modelos;
  • As modelos passaram a ter como opção deixar suas fotos protegidas ao invés de expostas gratuitamente para todo e qualquer visitante;
  • Houve engajamento de Youtubers locais na divulgação da relação entre conexão emocional e camming;
  • Desenvolveu-se no país o ramo de consultorias e programas de treinamento para modelos, tendo como base os conceitos criados pela NCP.

O time da NCP tem muito orgulho dos resultados obtidos no Brasil, mas esclarece que ainda há muito trabalho pela frente:

“As tendências de mercado são decididas com base na oferta e na procura de produtos e serviços. As hashtags são uma forma de quantificar o que está sendo mais procurado no momento. O departamento de marketing de uma empresa é responsável pela criação de campanhas publicitárias que gerem lucro imediato para a empresa. Para os empresários do setor de webcamming, a sexualidade do outro é vista como uma simples mercadoria. É por isso que as hashtags mais procuradas em sites de vídeos adultos são o foco da publicidade dos sites de webcamming. Ceder a uma tendência de mercado que não tem nada a ver com nossa opção afetiva e sexual muito provavelmente vai gerar adoecimento psíquico. Não podemos permitir que nossa sexualidade seja reprogramada”, reflete Priscila, abismada.

Considerando que o camming ainda é uma atividade profissional relativamente recente no Brasil, a chance de inovar e fazer diferente é realmente viável. Assim, a expectativa é a de que, com o passar do tempo, novas práticas — mais humanizadas — tornem-se ritualidades cotidianas no setor, colaborando, assim, para condições mais dignas de trabalho da modelo online.

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Sobre as idealizadoras da NCP

Priscila Magossi é jornalista (Mackenzie-SP/Brasil), Mestre e Doutora em Comunicação e Semiótica (PUC-SP/Brasil), pesquisadora acadêmica (ABCIBER/CENCIB) e autora do livro “Ritualidades e vida cotidiana na cultura digital: Uma investigação sobre os processos de comunicação e ritualização no ciberespaço. Magossi é CEO do projeto New Camming Perspective (NCP): uma nova estratégia de negócios para a Indústria de Live Cams focada na conectividade emocional entre a modelo e o usuário cuja finalidade é a contenção de danos (humanização) do setor.

Juliana Villegas é técnica de Rádio e TV (Newton-BH), locução (Beth Seixas-BH), teatro (Co-Produtora-RJ) e canto (Pró-Music-BH). Villegas é consultora e Modelo Representante do projeto New Camming Perspective (NCP), autora do seu próprio curso voltado para o público fetichista (sem nudez), e responsável pela campanha pioneira do setor de Live Cams direcionada à arrecadação de fundos para modelos grávidas.

 

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