* Por Maurício Malanconi
Com o desenrolar de tantas operações da Polícia Federal nos últimos anos, o setor de Engenharia tem sofrido um duro e explícito linchamento público pós-Lava Jato. Não é para menos: são inúmeros os casos de corrupção com o protagonismo de grandes construtoras brasileiras. Infelizmente, não é raro escutar pelos corredores das empresas as famigeradas expressões: “tudo irá acabar em pizza”, “essa movimentação só vai trocar as empreiteiras” e, a mais triste de todas, que “a corrupção não irá acabar”.
Mas é evidente que a maioria das pessoas torce para que os responsáveis sejam devidamente investigados, condenados e punidos. O importante mesmo é não generalizar o assunto, pensando que todos do setor são corruptos. Existe também grande parcela de profissionais sérios, competentes e responsáveis e hoje bastante preocupados em demonstrar transparência em seus trabalhos e projetos. E essa transparência é extremamente necessária neste momento, pois nosso país ainda demorará muitos anos para deixar de ser um país em desenvolvimento e se tornar, de fato, um país desenvolvido.
Nesses períodos de crise política e econômica, como o que estamos vivenciando agora, é que aparecem inúmeras soluções alternativas, criativas e tecnológicas. Elas surgem, sob medida, para países e mercados que carecem da tão sonhada credibilidade e, como veremos no exemplo abaixo, são capazes de minimizar de forma eficaz o envolvimento das empreiteiras em casos de corrupção.
O Reino Unido, com a técnica de Modelagem da Informação da Construção (BIM), mudou todo o seu processo de projeto, planejamento, execução, gestão, operação e até mesmo manutenção em obras. Trata-se de uma metodologia de trabalho que permite a modelagem de todas as informações de uma construção. Desde 2016, todos os projetos ou obras públicas devem seguir esse padrão para serem aceitos pelo governo inglês.
Na prática, o BIM é uma metodologia baseada no uso de sistemas (softwares) que permitem integrar todas as informações úteis de um projeto, permitindo fácil análise e gerenciamento de todo o ciclo de vida em uma obra. Com ele é possível a visualização em tempo real de todos os detalhes. Desenhos 3D contabilizam até mesmo quantos pregos serão necessários para finalizar o trabalho, recalculando estimativas de custos durante qualquer etapa da construção. Assim, podemos afirmar que seu maior benefício é a transparência, já que as informações ficam online e disponíveis para serem acessadas em qualquer momento por todas as pontas do projeto: construtora, cliente e, claro, órgãos fiscalizadores.
Replicado posteriormente nos Estados Unidos, Canadá, Espanha e em Singapura, o BIM tem tudo para desembarcar no Brasil. O Governo do Estado do Paraná saiu na frente – já possui, inclusive, um Plano de Fomento que visa à promoção do emprego dessa técnica na esfera pública estadual. Cabe ressaltar que o próprio Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SinduConSP) destaca a importância da metodologia em obras públicas, colocando em seu portal que “sua transparência permite otimizar o gasto público, banindo práticas de superfaturamento e corrupção”.
Não há mais o que esperar. A nossa geração, depois de ter passado por esse desgaste provocado pela corrupção no setor da engenharia, precisa assistir à punição dos envolvidos e estimular a utilização dessas novas técnicas para ver o Brasil atingir o nível de infraestrutura de um país desenvolvido. Isso se tornará possível ao colocar imediatamente em prática os estudos inovadores que seus técnicos acumularam nos últimos anos. Nós, técnicos, temos obrigação de apresentar as novidades e divulgá-las para que a população possa conhecer, entender e exigir de seus governantes a aplicação delas. Não podemos perder mais tempo.
* Maurício Malanconi é engenheiro civil e sócio-fundador da Suporte Sondagens, plataforma com soluções tecnológicas para auxiliar construtoras, projetistas, concessionários e órgãos públicos na gestão de dados geológicos e geotécnicos