Zezé Motta desembarca no Brasil para conhecer o barracão da Sossego

Foto:  Staff Company
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Comemorando 50 anos de carreira, artista não conteve a emoção ao conhecer carros alegóricos que contam parte da sua história

Ai está a visita de Zezé Motta, que veio exclusivamente de Portugal para o Rio, só para conferir as fantasias e carros alegóricos que foram criados pelo carnavalesco Marcio Puluker, da Acadêmicos do Sossego, que leva para a avenida o enredo “Zezé Motta – A Deusa de Ébano”, abrindo os desfiles na Marques de Sapucaí na sexta-feira (24) de carnaval. Atualmente morando em Lisboa, Portugal, devido a gravação da novela Ouro Verde, e se dedicando também ao seu oito álbum solo que será lançado ainda este ano “O Samba Mandou me chamar” pela gravadora Coqueiro Verde, Zezé Motta, não conteve lágrimas e emoção ao conferir os seus 50 anos de carreira esculpidos em criações e adereços carnavalescos.

“Com 72 anos, não é brincadeira, é muita emoção pra um coração só! Já comecei a me preparar inclusive, para no dia poder aguentar… Aceitei essa homenagem e aproveito para me despedir do carnaval. Já estou na casa dos 70, tudo bem que há senhoras de 90 cheias de disposição, mas cada um é cada um. Quero anunciar que é uma despedida. Até porque odeio dizer não e não quero que continuem me convidando para desfilar. Preciso de férias pra minha saúde física, mental, espiritual e familiar. Vou me despedir em grande estilo”. Diz Zezé.

Desde que começou a desfilar, em 1972, a artista viveu momentos memoráveis na Avenida. Já caiu no samba ao lado da comadre Marília Pêra – a quem define como “saudosa”- com o enredo “Alô, Alô, Taí, Carmem Miranda”, desenvolvido por Fernando Pinto para o Império Serrano. Viveu também a emoção de ser convidada por Martinho da Vila para interpretar sua personagem Dandara, do filme “Quilombo”, no desfile campeão da Vila Isabel que levava o nome de “Kizomba, A Festa da Raça”. “Lembro-me que eu tinha dito por telefone para o Martinho que queria sombra e água fresca para o Carnaval e não ia desfilar. Ele me disse que era uma pena e que eles iam ter que partir para um plano B. Eu desliguei a ligação e pensei: Como assim um plano B? Eu e ele estávamos comentando dia desses como o ator tem muito ciúmes dos personagens que interpreta. Liguei pra ele de novo e disse: Martinho, não precisa ligar pra ninguém não. Eu vou fazer a Dandara”, relembra Zezé aos risos, ao completar que embora tenha um “xodó inexplicável” pela Mangueira e muita simpatia pela Portela, não tem uma só escola do coração e é apaixonada por todas pelas quais passou.” disse a atriz.

Ícone negro da cultura brasileira, a cantora e atriz que ficou imortalizada internacionalmente como Xica da Silva, no filme de 1976 do diretor Cacá Diegues, tem participado ativamente de cada detalhe do desfile, mesmo de longe! A Gress Acadêmicos do Sossego, entidade que integra o Grupo de Acesso do Rio de Janeiro, volta à Sapucaí em 2017, e por isso quis exaltar uma personalidade forte e importante para a cultura do país. “Me sinto em estado de graça, com o convite da Acadêmicos do Sossego e pela homenagem que estão preparando. Não tenho palavras à altura de poder ser cantada no palco sagrado do carnaval. É muita emoção”, declarou Zezé.

“Será uma grande homenagem que passará pela seu vida, pela sua carreira no teatro, passará pela televisão e mostrará sua carreira como atriz e cantora e ainda pela sua militância”, comentou Puluker.

Figura respeitada da música, televisão e cinema, Zezé é incansável. Só em 2017 ela está com projetos no cinema, teatro e tv. Deus, na forma de uma mulher negra, é o personagem de Zezé Motta, que vai logo avisando ao atraente Diabo, interpretado por Murilo Rosa: “Os homens não são fiéis, filho. Por isso criei o cachorro!”. A Comédia Divina chega em breve aos cinemas de todo Brasil. A artista também pode ser vista na série 3% da NetFlix e festeja um musical sobre os seus 50 anos de carreira, e uma peça baseada na história da escritora e catadora de lixo Carolina Maria de Jesus. Também em 2017, Zezé Motta terá sua vida mais uma vez contada em biografia. Está sendo escrita por Cacau Hygino um livro de memórias sobre os bastidores da vida da artista.

Com o enredo, à escola de Niterói pretende se referir às mulheres negras que chamam a atenção por sua beleza e exuberância, como Zezé, ícone negro da cultura brasileira, e claro, eterna Xica da Silva, Dandara, entre tantos outros papeis que a imortalizou. A Acadêmicos do Sossego entra no palco sagrado do carnaval. Vem com as bênçãos dos deus sagrados do teatro, da música, do cinema, da TV e da negritude para prestar homenagem a esta grande estrela das artes, trazendo os sinceros aplausos no seu manto azul e branco. Com força do seu canto e da sua comunidade vem dizendo: Bravo, Zezé Motta!

A escola prepara surpresas, mas adianta que o maior trunfo do desfile será a entrada de Zezé. “Vai ser o ápice do espetáculo. Mas chamo a atenção para a nossa comissão de frente, que está emocionante, o abre-alas e o último carro da escola” comenta o carnavalesco Marcio Puluker.

“Na minha adolescência, eu me achava muito feia porque minhas colegas me diziam que meu nariz era chato, meu cabelo era ruim e minha bunda era grande. Sofria com isso. Passei por um processo de tentativa de embranquecimento, comecei a alisar o cabelo e usava peruca chanel. Meu sonho era juntar dinheiro para fazer uma cirurgia no nariz e afiná-lo. Pensei em diminuir o bumbum para ser aceita. Só comecei a me aceitar em 1969, quando tinha 25 anos e viajei para os Estados Unidos, em pleno momento Black is Beautiful. Comecei a olhar as mulheres e os homens e falei: “Gente, eles são bonitos”. E aí cheguei à conclusão: “Por que eu não acho que nós, negros, no Brasil somos bonitos?”. Descobri que era questão da autoestima bem resolvida. Via negros lindos na rua, com cabelos black power lindíssimos. Essa viagem foi muito importante para mim. Me enfiei embaixo do chuveiro e parei de alisar o cabelo. Não é nenhuma crítica a quem prefere cabelo liso, o ruim é a negação das características, e isso foi um momento que eu fiz questão que fosse contado no desfile”, afirma Zezé Motta.

A atriz que já recebeu o Troféu Oscarito – destinado a grandes atores do cinema brasileiro -, por sua majestosa atuação como Xica da Silva, de Cacá Diegues, que projetou o cinema brasileiro em mais de 16 países no ano 1976, foi recentemente homenageada e entrou para a memória do Museu do Festival de Cinema de Gramado (RS), através de uma estátua de cera. A estátua foi feita nos mesmos moldes das Estátuas produzidas para o DREAMLAND – primeiro museu de cera da America Latina.

Fotos:  Staff Company

Zezé Motta (5) Zezé Motta com o Presidente Wallace Palhares Zezé Motta com o carnavalesco Marcio Puluker

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