SHOW OS NOVOS BÁRBAROS, MUTANTES E MOLHADOS

“A distância de um astro pro outro é a proximidade de igual valor”, por meio dos versos de Lente de Aumento, canção pulsante sobre “transpor preconceito e torpor”, Bia Castro, Cecilia Einsfeld, Claudia Duque, Fernanda Morais, Beto Rocha, Fabiano Souza e Oseas Farias, os setes artistas que formam o Lado Alado, definem este encontro musical. Lente de Aumento é uma das 60 músicas que compõem o repertório do Lado Alado, grupo que lançou simultaneamente no mercado no fim de Agosto de 2017, de forma independente, cinco álbuns, todos gravados a partir de janeiro desse mesmo ano. Com impressionante identidade criativa nas composições feitas no decorrer de anos de amizade e admiração mútua, estes artistas de diferentes gerações e cidades no estado do Rio de Janeiro, surgem com álbuns que trazem a lembrança de um país feliz e a promessa de Brasil melhor. Orquestrados pelo cantor, compositor, violonista e baixista Oseas Farias e pelo cantor, compositor e letrista Fabiano Souza, que também integram o Lado Alado, o grupo reúne a cantora, compositora e percussionista Cecilia Einsfeld e os cantores e compositores Beto Rocha, Bia Castro, Claudia Duque e Fernanda Morais. Fundamentalmente acústicos, os álbuns são voltados à determinados estilos musicais e suas variações: Por Trás Desse Silêncio, álbum de sambas e bossas, com adesão do cavaquinho de Michel Farias, Nem Distante Nem Demora, álbum de baiões e cirandas, com participação do acordeão virtuoso da holandesa Ilse Roskam, Um Modo de Tocar, álbum de rocks e blues, que conta com o cajon do músico Rodrigo Peres, e Bem Mais do Que Nós, álbum de baladas e jazz. O álbum mais “recente”, Sortido, gravado somente em um dia no estúdio, possui repertório variado e a participação especialíssima do pianista Zé Lourenço. Como curiosidade, vale revelar que as capas digitais dos álbuns foram feitas a partir de fotos enviadas para um grupo de mensagens do Lado Alado pelos próprios cantores/compositores. Canções existencialistas, como Ciranda em Si, que traz os versos “Não cabe o quase na mala, não basta imaginar, já não vale por um triz, e tudo por um fio é nada, pra quem tem um mundo em si”, parece falar sobre o próprio momento dos artistas reunidos neste projeto. Na belíssima Aonde Ainda Há, questionam “onde andará, aonde ainda há, o mel dos dias mais humanos, manhãs que o amanhã dará”, ambas parcerias de Beto Rocha e Fabiano Souza. Com 70% do repertório composto pelos integrantes do grupo, o Lado Alado ainda embarca canções de outros compositores singulares como Thelma Baracho, Hugo Veloso, Ugues Barbosa, Roberto Lara e Claudio Camillo. Entre afetivas e gratas surpresas, tem o autor do samba Posseiro, Everaldo Bezerra, pai de Claudia Duque, e Ailton Rocha, autor de Baião do Viajante, tio de Beto Rocha, homenageados e reverenciados pelo grupo. Na balada Mil Mirantes (Claudio Camillo/Fabiano Souza), os Alados sentenciam: “Não gastei solas a toa, pra ancorar cá no chão, trilhas passo após passo apagarão. Corro entre ruínas, ruas em construção, rios que sempre correrão”. Recomendam em Acordes do Alvorecer (Thelma Baracho/Fabiano Souza): “Quando a dor bater à porta, ligue o rádio para não escutar”. Quando o assunto é o amor, passam longe do lugar comum: “Até te olhar andava reto, de lá pra cá piso no teto e vou”, versos da cigana De Repente o Oriente (Oseas Farias/Fabiano Souza). O grupo também mostra sua visão para o Brasil dos nossos dias, indagando “O que será essa nação? Qual será a nação que temos? Será um corpo já na caveira? Será um prédio só no esqueleto?” na canção O que já é metade (Fabiano Souza). Indo além do território nacional, em Desejo de paz (Oseas Farias/Fabiano Souza), canção de melodia doce que retrata em seus versos o drama dos refugiados, das vítimas de atentados, dos órfãos nas guerras e do trabalho escravo, “o dia adia o fim, do lado alado em nós, no caos que ecoa aqui”. Com inúmeras combinações de vozes, tão diferentes que é impossível confundi-las entre si, cantam de duos à septetos as canções, mostrando suas personalidades vocais, das mais suaves às mais viscerais, com uma paleta rica de timbres graves, médios e agudos, contrastando e complementando do início ao fim. Originários de outros grupos musicais como o experimental Inversos (Bia, Claudia, Oseas e Fabiano), Grupo Elemento (Fernanda e Beto) e Sopro de Gaia (Cecilia), alguns componentes com projetos solos já estabelecidos (Fernanda, Claudia e Beto), o Lado Alado é uma união única, com o tipo de “fórmula” que não se repete. É possível identificar influências dos principais movimentos musicais brasileiros na obra autoral do Lado Alado: Clube da Esquina, Tropicália, Bossa Nova e Jovem Guarda, além expressões musicais que sucederam nas décadas seguintes, como a black music dos velhos camaradas, as rodas de samba dos bambas cariocas, o grande encontro dos astros do sertão e até mesmo o rock do serrado brasileiro. Tudo isto sem perder o teor atemporal das canções. Que o canto destes pássaros voe por cima da dor e dos calos dos pés, que as sementes que eles plantaram cresçam e que todos vejam, porque esta turma não ficou parada, distraída, e chegaram cedo para ver o mar. Que um mar de gente agora possa vê-los e ouvi-los.

 M. Bittencurt 
 
SERVIÇOS: 
LOCAL: SESC NOVA IGUAÇU
 DATA: 23 DE JUNHO
 HORÁRIO: 19 HORAS
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